Após um banho quente, eu circulava de carro, meio distraído, observando tendas nas portas de escolas neste primeiro dia de Enem. Apenas os professores e vendedores de alguns colégios e lojas estavam de plantão, esperando a turma sair dali a duas horas.
Um rapaz apareceu na frente do carro sem eu perceber de onde. Reflexo condicionado, acionei rapidamente o freio. Já baixava o vidro e me preparava para dizer boas a um distraído de uma figa, quando percebi o rosto tomado de tristeza.
Cheguei até ele. O que aconteceu com você? Não pode andar pela avenida sem atenção… Ele olhava para o céu e falou com uma voz triste. Eu perdi o Enem, rapaz. Meu pai vai matar-me. Ele chorou muito e ficou muito triste.
Fiquei meio chateado com aquela cena. Um marmanjo muito bonito chorava na minha frente. O tempo estava muito quente. Vamos conversar no carro e falar um pouco. “Se ficar aqui, você vai ser atropelado e…” (ia completar “seu pai nem precisar matá-lo…”, mas não seria legal)
Ele concordou e, mais conduzido por mim que pelas pernas, entrou no carro. Dei partida e comecei a puxar assunto, enquanto pensava para onde levar… Às vezes, acontece algo inesperado. Já aconteceu com todos, pelo menos uma vez… Como foi? Você chegou atrasado? Você perdeu a hora?
Ele começou a falar, calmo, mas com a cabeça baixa. Eu moro em uma cidade próxima e não há ônibus disponíveis. Os carros alternativos só saem quando todos os lugares estiverem lotados. Quando chegamos ao colégio, estavam fechando o portão. Eu corri, mas já tinham trancado quando eu avistei. Eu falei com o cara que fechou o portão, mas ele disse que não podia fazer mais nada porque era uma ordem de Brasília. Aí caiu a ficha: perdi o ano todo estudando e meu pai contava com esse Enem para eu ir à Faculdade… Perdi por pouco tempo.
Senti pena daquele garoto ali, acuado no banco, que foi pego em flagrante. Ele ficou com medo do que o pai poderia fazer com ele. Dei uma de pai postiço para acalmá-lo. Ele iria pensar melhor antes de fazer algo.
Levei ele para o meu lugar. Quando paramos no estacionamento, ele ficou meio bravo. Quem está aqui? Eu falei para você ficar tranquilo, que estava tudo bem. Vamos subir, tomar um refri e conversar. Completei: Se você não quiser, pode subir. Não há problema com isso. Posso te levar para o ponto de táxi da sua cidade. Ele foi duro. Preciso esfriar a cabeça. Podemos subir em algum lugar. Eu não estou atrapalhando o senhor. Só vamos combinar: não sou senhor, tá? Cláudio é meu nome. “Roberto”, ele respondeu. A mão estava doendo.
Vamos nos mexer. Apartamento de solteiro é bagunçado – quem mora sozinho não precisa manter tudo impecável. Disse isso, meio me desculpando, e ele riu. Eu descobri que ele era bonito. Um sorriso bonito em um rosto ainda jovem. Camiseta cinza e bermuda até o joelho, tênis – eram seus trajes.
Ao entrar, apontei-lhe o banheiro: “Vai ali, toma uma ducha esperta, que é bom para esfriar a cabeça. Vai indo que vou pegar uma toalha… E enquanto você toma banho eu preparo alguma coisa geladinha pra gente driblar o calor… e conversarmos um pouco…” Senti que quis resistir, mas, como fui falando e me dirigindo ao interior do apartamento, para pegar a toalha, ele não teve alternativa a não ser seguir para o banheiro, enquanto eu ia me desfazendo da camisa e da bermuda, ficando somente de sunga… “Calor da peste, sô!”
Em pouco tempo, ouvi o barulho da água caindo. Fui levar sabonete e toalha. Ao empurrar a porta (eternamente sem chave), estava de olhos fechados, debaixo do chuveiro, deixando a água resvalar pelo corpo.
Estremeci. Era lindo aquele meninão. E gostoso. Ralos pelinhos amarelos sob os braços e em volta do pênis, uma pele branquinha, peito sem pelos, fornidas e definidas coxas, pelos loiros também nas pernas… Senti meu pau remexendo dentro da cueca, mas procurei não dar bandeira. Fiquei só observando aquela imagem de deus grego, sob a água do meu banheiro, que deslizava pelo corpo e fazia uma espécie de cachoeira de um fio só, descendo na rola, que se balançava levemente.