Samara a Fantasminha Camarada – Parte 1

Minha identidade é Samara e sou uma adolescente de mais de duas décadas.

Você não compreendeu? Passo a explicar-lhe.

Há exatos vinte anos, estava atravessando a rua quando um bêbado malvado, dirigindo um carro desgovernado, me atingiu mortalmente. Fiquei ali, jogada no meio da rua. O sujeito imundo fugiu e nem sequer tomou uma atitude.

Que seja maldito seja ele.

Fiquei aqui, assombrando as casas desta rua e as pessoas que a frequentam. É muito chato estar morta, mas assustar as pessoas traz um pouco de alegria para a minha vida, aliás, para a minha morte.

Os alvos preferidos são pessoas em seus carros e jovens, sobretudo meninos, da minha idade. Certa noite, mais uma possível vítima dos meus apavoramentos aqui no meu ponto, mas eu nunca imaginaria que me apaixonaria por ela, na verdade, por ele. Tentei atacá-lo.

Essa é a história de como uma fantasma adolescente acabou se apaixonando por um vivo.

PARTE 1

Era umas dez horas, a noite estava fria e a rua vazia.

Eu fico debaixo de um poste na esquina a noite toda esperando algum trouxa passar para assustá-lo e durante o dia eu entro em alguma casa por perto ou debaixo da sombra de uma árvore, não posso ficar no sol, a luz queima.

O bairro onde fico é de classe média, cheio de casas e gente para apavorar, a rua é escura e não tem muitos cachorros (detesto cachorro). No começo eu assustava até dez pessoas em uma única noite, mas, com o tempo, todos começaram a ter pavor de sair durante a noite por minha causa. Agora, com muita sorte, eu consigo assustar apenas um pedestre desprevenido.

Meu look é de uma daquelas fantasmas que aparecem nos filmes: vestido branco longo e cabelos negros compridos que tapam a minha vista, a única diferença é que eu não tenho uma cara horrorosa como a das minhas sósias da TV, eu sou bem bonita, inclusive, quando eu estava viva, era muito elogiada devido a minha beleza estonteante.

Eu estava ali parada, escorada no poste olhando para o muro branco de uma casa, quando percebi uma movimentação lá no final da rua, alguém estava vindo. Me preparei, coloquei o cabelo na frente do rosto e fiquei esperando a pessoa passar perto de mim para fazê-la sair correndo desesperada. A rua era muito escura, o único poste que fornecia luz era o meu, então não conseguia ver quem era, se era homem ou mulher, jovem ou velho.

Algumas vezes eu acabo mudando a modalidade do meu ataque, ao invés de fazer minha vítima se cagar nas calças, eu acabo abordando ela e, se for um carinha que me interesse, eu o faço me levar para sua casa para poder estuprá-lo. Bom, uma fantasma também precisa de sexo.

A pessoa se aproximou mais e finalmente a luz do poste me permitiu ver quem era. Um adolescente muito bonito, devia ter uns dezessete anos, trajava um moletom cinzento e calça azul-marinho, tinha cabelos pretos e usava grandes óculos quadrados. Agora estava a cinco metros de mim, fones de ouvido nas orelhas e uma expressão séria, preocupada, era como se estivesse perdido, olhava para os lados como se procurasse alguém ou alguma coisa.

A dois metros de mim agora.

Gostei dele por ser bonito e aparentar a minha idade. Iria usar a minha segunda tática com ele.

Passou-se por mim, atravessou-me (porque sou uma fantasma e os fantasmas são, geralmente, intangíveis), parou na esquina e olhou para os lados.

Não perdi mais tempo, realizei-me, puxei os cabelos para trás e disse:

– Bom dia.

O rapaz emitiu um som estranho e, logo em seguida, deu um salto, caindo de quatro no meio da rua.

– Olá, está tudo bem?

Ele levantou-se rápido, virou-se para mim, tirou o fone das orelhas e disse:

– Que caralho! Tenho uma expressão de medo no rosto agora.

– Peço desculpas pelo incómodo que causei em você.

Ele endireitou os óculos quadrados.

– N-não, é que eu não vi você ai.

Minha presa estava indefesa agora.

– Você tá perdido? Precisa de ajuda? – perguntei.

– Não… é que eu tava indo pra casa e me perdi no caminho.

Sua voz estava embargada, como se estivesse quase chorando de medo.

– Se perdeu no caminho de casa? Então você precisa da minha ajuda. Onde você mora?

– Err… n-na Rua das Flores, 576.

Ele estava praticamente na porta de casa.

– Ah, a Rua das Flores fica bem ali na outra esquina – apontei à minha frente para uma rua mais iluminada que estava a três quarteirões de distância. – Vamos, eu te levo até lá.

Ele olhou para a outra esquina e disse:

– Não, tudo bem, eu me viro sozinho.

– Mas, persisto, vou te levar até lá.

Peguei-o pelo braço e puxei-o.

Estivemos na outra esquina. Avenida das Flores.

– Você me deu um susto lá embaixo – ele disse.

– Peço desculpas pelo fato de estar atrás do muro, ou seja, do outro lado da rua, o que explica o motivo pelo qual você não me viu.

– Certo. Fiquei assombrado pelo fantasma que uma mulher disse que assombrava a rua.

– Você acredita em fantasmas? – respondi com um sorriso descontraído.

– Não, é claro. O fantasma não existe. Ele sorriu, aparentemente sem expressão.

Caminhamos mais pela rua iluminada até que ele disse:

– Avistou-se para uma residência de dois andares, com paredes pintadas de vermelho. – Eu tenho que ir, obrigado.

Ele pôs o pé na rua e a atravessou, eu fiquei ali vendo ele ir embora.

Tinha que pensar em alguma coisa rápido.

– Mas espera! – fui correndo atrás dele tropeçando no vestido branco. – Eu preciso de… água, é, um copo d’água, tô com muita sede.

Ele me olhou estranho.

– Hum, tá certo. Vem comigo.

Yes! Consegui. Agora era só entrar na casa dele, fazer ele me levar para o seu quarto e atacá-lo em seguida, tudo muito simples.

A residência dele era bastante rica e rica, como uma pequena mansão. Todos os ambientes eram amplos e os móveis são antigos, provavelmente do século XVIII ou XIX. Passamos pela sala, atravessamos um corredor com quadros nas paredes e chegamos à cozinha. Ele pegou um copo de vidro, encheu-o com o líquido e me entregou. A cozinha era o espaço mais reduzido da residência, com um fogão, uma geladeira e uma pia.

Bebi toda a água e agradeci:

– Obrigada – nesse momento eu fiz uma cara de santinha para ele. – Me diz, você mora com os seus pais? Cadê eles?

O olhar dele mudou.

– Bem, meus pais já faleceram faz uns anos. Eu moro aqui com a minha irmã mais velha.

Nesse momento eu pensei nos meus pais e nos meus irmãos, na tristeza que eles sentiram depois que eu morri, a falta que eu fazia para eles. Não muito depois da minha morte, todos se mudaram do bairro. Foram para longe, nunca mais os vi. Mas agora não era hora de pensar nisso, tenho que continuar com meu plano.

– Ah, sinto muito. Então quer dizer que a gente tá sozinho aqui?

Minha primeira investida.

– Hã, é… sim, a minha irmã saiu pra balada.

– Sei… Me leva pro seu quarto – dei uma mordidinha no lábio e fiz a minha melhor cara de safada.

– Hein? P-pro meu quarto? Mas pra quê? – ele estava começando a ficar nervoso.

– Pra gente transar.

Segunda investida.

Passei a mão na calça dele, bem naquele lugar, e aproximei meu corpo do seu, ele agora estava bastante nervoso, mas com toda certeza, não iria resistir ao meu encanto fantasmagórico. Minha boca quase encostando na sua, quando ele tentou me beijar eu recuei e me virei de costas, meu bumbum roçou em uma região que já estava ficando dura. Eu perguntei:

– Você quer?

Ele passou a mão na minha cintura e tentou levantar o meu vestido.

– Quero.

Sei muito bem como enlouquecer um homem, muitos anos de prática.

Subimos as escadas para o segundo andar e fomos direto para o quarto dele. Também era pequeno, três por quatro metros, cabia ali apenas a cama e um guarda-roupa. Eu o empurrei para a cama e olhei para fora do quarto através da janela, tudo escuro. Fiz um gesto com a mão e as cortinas roxas se fecharam imediatamente.

– Como que tu fez isso? – ele me olhou com uma expressão de pavor.

Meu vestido se abriu e caiu no chão revelando o meu corpinho delicioso. Sua expressão mudou novamente, de apavorado para impressionado.

Fechei a porta do quarto e girei a chave. Me aproximei da cama, subi em cima dele e lhe dei um beijo bem gostoso. Senti seu pau ficar cada vez mais e mais duro.

Era agora, ia acontecer.